terça-feira, 15 de setembro de 2015

Doutor nosso de cada dia...

É...  
Interessante como são as coisas.
Me atreverei a expor meu pensamento em 4 atos.

1º ATO - AO SEU MODO FUNCIONAVA
   
Antigamente, por mais pobre que fosse o cidadão - já quero iniciar destacando que não procuro acusar nenhuma classe social, financeiramente dizendo-se - ele vivia mais.
Tenho para mim que a expectativa de vida só diminuiu com o passar do tempo e passou a aumentar, graças às possibilidades de mudança que foram aderidas pelo Estado e aceitas pela população. 
Hoje toda a preocupação com o  controle da natalidade, que já foi tema muito explorado no passado, já não necessita mais de tanta incisividade, uma vez que naturalmente entendemos que não há condições de fechar os olhos para o controle populacional, que viver está caro e manter família nesse país é um esforço pra lá de humano, apesar de que, do jeito que andamos economicamente falando-se - e nesse momento me referindo ao momento político - não vou me assustar se a "presidenta" aparecer pedindo para que tomemos mais cuidado na geração de filhos e, se isso acontecer, lembrem-se que não profetizei nada, apenas concluí mais uma que para acontecer está bem fácil.
Não dá para facilitar, é tentar aproveitar a vida sim sem querer esticar muito os galhos e frutos da árvore genealógica, apenas querer aumentar o tempo de vida por nossa conta e risco ainda.
Para ser mais direto, penso que no passado ou os médicos acertavam mais em seus diagnósticos, fruto de uma maior domínio da ciência que os norteava e do menor glossário de doenças, imaginando que graças à limitação midiática e privações de mercado, muitas coisas ruins ficavam lá onde elas eram criadas ou lançadas e, quando cruzavam as fronteiras, o que imagino que levava tempo, se considerássemos os meios de transporte - inclusive das informações sobre o que era modinha em outros países - quando aportavam por aqui já traziam consigo inclusive os prós, contras e soluções.
Resumindo. O médico era suficientemente bom para identificar as anomalias e receitar o remédio que sanasse o problema diagnosticado, assim como tinha o poder de dizer que não tinha cura e o paciente já ir preparando a sua partida para o além.
Certamente a margem de erro existia, mas hoje isso é questionável, inimaginável e muito difícil de se acontecer.
Primeiro porque não existe mais médico "saco roxo" que venha e desacredite um paciente na lata.
Se tiver que fazê-lo, vai procurar no computador um especialista sobre aquele ponto "X" que ele vê e despachar o paciente e o problema para lá.

Por ética vai prometer ao paciente que acompanhará junto ao colega especialista "o seu caso", porém, tenho a nítida certeza de que, assim que o paciente cruzar a porta - agora de saída - do seu consultório ele vai pensar lá no fundo: "Já fiz a minha parte... Agora, o problema é do especialista... ele (o especialista) tem por obrigação entender melhor acerca desse caso".
Num caso muito raro, de interesse do médico - aí eu já estou batendo na casa do especialista - que não encontrou a solução para o problema, mas não pode dar o braço a torcer, enfim, ele é especialista, lá vai o pobre coitado para o hospital das sei lá quantas, certo de que encontrarão a cura para o seu problema, sem saber que está sim sendo mais uma cobaia humana inserida numa lista de estudos. Quem sabe dá sorte e encontram ali a cura, pois de qualquer forma o ciclo vai continuar.

2º ATO - DOUTORES: UNI-VOS!


Fato verídico que vivi ainda em minha mocidade, ali pelas faixas entre 25 e 28 anos, ou seja, já faz um bom tempo.
Sofria uma pressão emocional imensa, pois meu pai havia falecido e no meio de tanta responsabilidade e sonhos se destruindo, eu não conseguia administrar a pressão e passava mal.
Desmaiava, às vezes com alguns sinais de crise convulsiva e, para curar, lá fui eu no médico do convênio.
O doutor clínico geral me pediu uma gama de exames, os observou e encontrou um qualquer coisa diferente no resultado de uma tomografia computadorizada. Naquela época, não bastasse o nome ser feio, apesar de a gente nem se doer tanto com o termo tomografia, que nem sabíamos o que queria dizer ao certo, mas imaginávamos que qualquer coisa que desse seria relacionada a tumor; mas tinha computador no meio e, falou de computador naqueles tempos, podia saber que se tratava de um exame que ia além do nosso poder financeiro com uma margem de erro muito pequena.


Graças a Deus o convênio que eu pagava pela empresa me permitia - não sem alguma recorrência a instâncias maiores, o que foi facilmente resolvido pela assistente social da empresa - fazer tal exame. O resultado não era nada diferente do raio X que existia na época para a nossa visão de mero mortais, ao menos o material final, mas, para os que entendiam, ficava claro que dali saía o mapa para o tesouro escondido.
De posse desse exame, já de cara, o clínico geral me informou que não dominava o assunto, mas notava um "foco" - qualquer foco naquela época em uma tomografia computadorizada era sinal de problema sério... meio passo para a loucura - no cérebro e que precisava de um especialista no assunto. Eu nem percebia que nessa época já me fazia vítima do processo de setorização do corpo humano dentro do serviço médico.

O especialista, que naquela época começava na área, vindo das melhores escolas segundo o clínico geral e que já estava sendo muito procurado, pois bem me lembro que naquele tempo havia apenas um doutor que era de fato autoridade no assunto aqui em minha cidade e a fila para ser atendido por ele era muito grande, apesar de que, como o convênio ainda valia alguma coisa, se quisesse mesmo ser atendido por ele, bastava ligar no consultório, marcar o dia e horário que bem quiséssemos e já era. O conveniado era tão bom quanto cliente particular. Sem essa de fila de espera.
Voltando ao especialista... pegou meu resultado, fez um circulo com a caneta em um ponto preto que, segundo ele, era menor que um grão de feijão pequeno, mas era o que estava causando todo o transtorno de minha vida.
Me explicou que eu ia estranhar um pouco no começo. Para eu tentar me acalmar, adquirir novos hábitos, senti que a sugestão era para eu pular uns 15 anos da minha idade e viver calmamente tomando Gardenal.
Não ia poder beber, nem dirigir à noite, pois ele já foi avisando que o tal do remédio era forte e ia me dar muita sonolência até eu me acostumar, que era bom eu evitar altos estresses... praticamente me mandou vegetar e.. tomar Gardenal.
Cheguei em casa destruído, psicológica e mentalmente, comentei com minha mãe que insistiu... já que o médico receitou, que eu devia tomar, assim eu não teria mais os lances de desmaios e tudo mais.
Tomei dois dias direitinho e no terceiro dia eu fiquei louco sim... querendo matar o médico, pois se eu ficasse tomando aquele negócio eu ia perder o emprego, já que a única coisa que me dava era sono e me fazia viver parecendo um robô à pilha, porém, sempre com a pilha acabando... tudo muito lento, parecia que eu estava anestesiado. Fiquei mais alguns dias sem tomá-lo, para visitar em sã consciência, caso fosse necessário peitá-lo e lá fui eu.
Para tomar uma bifa, só faltava ele me ver nervoso como eu estava e perguntar: "Você está tomando direitinho a medicação?"... Ia ver só. Eu estava tão revoltado que era capaz de rolar uns paranauê no consultório, mas, ele agiu de forma diferente, aceitou as minhas críticas de mal estar  e me receitou outro remédio.. Hidantal.

Saí de lá e fui direto para a farmácia, com uma mala de viagem cheia de indignação e desconfianças, expliquei a situação e, para resumir, ouvi do balconista que só mudou o nome, pois o resto era a mesma coisa... bom, não comprei essa droga, peguei meus resultados e fui atrás de outro médico. De outro clínico geral, para começar tudo de novo.Esse clínico geral ouviu toda a minha história, perguntou tudo o que pode, respondi tudo o que me questionou e afirmava, contrariando o ditado de que todo louco diz a mesma coisa, que eu não era louco e que esse médico estava me tirando de otário, por isso minha busca em recomeçar a saga com pessoas que tivessem um pouco de amor ao trabalho e responsabilidade para com os pacientes. 
Estou com pressa de ir para o terceiro ato, assim sendo, esse doutor me mandou para o expert no assunto de cabeça - que era para onde o anterior deveria ter me mandado se não tivesse querendo lançar um novo nome na cidade, ou sendo bancado para isso, sei lá, enfim, o investimento para o tal doutor ir estudar fora e voltar para Piracicaba precisava ser recuperado - que pegou os resultados, pediu para eu contar novamente toda a história desde quando comecei a passar mal, perguntou meus sintomas, sugerindo exatamento o que eu sentia e não havia lhe dito - nisso eu já me sentia nas mãos de um bruxo e me imaginava sendo internado para tomar algo pior que o tal do Gardenal, tirou o bloco de anotações, fez uma carta, colocou num envelope, fez um ou dois telefonemas e me disse depois:
Você fez muito bem em mudar de médico, o seu quadro é de problema cardíaco, esse ponto que destacam como foco, não é nada, faz parte de uma das tantas cavidades que temos na cabeça e que na tomografia aparece como sombra. Me indicou um cardiologista, que identificou meu problema de arritmia cardíaca - não sem antes passar por mais um monte de exames loucos - me receitou remédios, regras alimentares e pedidos de reavaliar o lado "nervosinho" e graças a Deus tudo acabou bem.

3º ATO - A FÓRMULA QUE DA CERTO

Há poucos anos atrás, 5 ou 6, eu frequentava uma clinica de olhos aqui na cidade. Muito
boa... concorridíssima, muito bem organizada e com profissionais respeitados.Tinha muito problema com a pressão dos olhos, usava colírios de valores nada agradáveis e havia a necessidade de monitoramento periódico.
Um belo dia, num desses retornos periódicos, fizemos os mesmo exames de sempre, com as mesmas reações de sempre - tem um exame com um "soprinho" nos olhos que eu odeio - porém, com um diagnóstico final diferente, para a minha surpresa. Pela primeira vez apareceu uma "anomalia" qualquer que requeria um estudo mais detalhado.
Para realizar tal estudo, havia a necessidade de se fazer um exame caríssimo - de novo - com um equipamento importado e especialmente desenvolvido para descobrir os segredos mais profundos que temos nos fundos dos olhos.
Não me lembro o valor do tal exame, e entendo também que não vem ao caso, mas me lembro que era muito caro mesmo, pois de pensar nele ainda sinto as pernas bambeando, ecoando o susto que o doutor me deu naquela época e, para realizá-lo, de novo, precisava entrar em contato com a mantenedora do convênio e pedir o aval das "instâncias maiores",
mas, como era para entender melhor e talvez - ao menos eu acreditava nisso até um certo momento - ajudar a melhorar o tratamento... vamos lá!
Pedi para me passar todo o material necessário que me possibilitasse recorrer ao apoio do convênio e fazer jus ao meu direito como consumidor, quando o doutor me diz de forma até sarcástica: "Antes que você, a exemplo de outros pacientes, me pergunte sobre o médico que estou indicando, já adianto... é o meu filho, por isso tem o mesmo sobrenome".
Você que me lê pode não acreditar, mas nesse momento meus olhos se arregalaram, minha visão clareou de tal forma que eu consegui superar o Superman e com uma visão muito além do alcance ver escrito lá adiante... antecipando o futuro não tão distante que estaria acontecendo no momento em que eu saísse da sala... "Mais um para ajudar a família... mais um para atestar o sucesso das técnicas que meu filho trouxe para o mercado... mais um para comprovar a competência do meu menino, mais uma forcinha minha para o futuro profissional".
E para os que dizem que o que os olhos não vêem o coração não sente, fica o meu alerta, não sei a cara desse doutor que me atenderia, não sei qual é esse aparelho semi-endeusado que diria o que está nas entrelinhas dos meu olhos, e não sei como ficou a cara do doutor que sempre me consultou e para o qual eu sempre tive muito respeito até dar uma dessa... só sei que o alivio do meu coração foi imenso. Me senti escapando por um triz de uma armadilha que, pelo jeito, comumente rola no universo da "boa saúde", que de boa não tem nada.

4º ATO - A SINA VIROU ROTINA

   
Para mim só ficou claro, toda a vez que precisei de médico, que a união faz a força.
Eles se uniram, formaram os convênios, vieram os especialistas, se organizaram, o governo deu todo o apoio, numa estratégia para aliviar um pouco o plano de saúde federal e tentar - pois não conseguiu - aumentar sua receita através dos particulares mas, no meio do conluio todo, saiu perdendo, pois com certeza se arrependeram de pagar tantas cesarianas, por exemplo, que em sua maioria das vezes já haviam sido pagas pelo convênio e em outras vezes, pois já ouvi testemunhos a respeito, pagas por fora para o doutor que, por sua vez, fazia a cobrança e recebia novamente do governo.
Os planos de saúde se tornaram um martírio.As empresas, que passaram a oferecê-los, aderindo a vários moldes que atendem desde os funcionários mais abaixo do mapa organizacional até os "top of line" na hierarquia organizacional, colocando isso como uma das vantagens oferecidas pela empresa e, com isso, superlotando os agora Pronto Socorros Particulares, e fazendo com que as empresas de assistência médica só se organizem mais para manter sempre funcionando os planos super vip baster master e o resto... ah, o resto, cai na máfia de estripadores. Analisemos por parte, cada especialista com sua parte, o que for possível cobramos do convênio, o que não for, tiramos do INSS e ainda você tem a opção do atendimento particular, enfim, melhor ser atendido dentro de alguns dias pelo particular do que de algumas semanas pelo convênio ou meses/anos pelo INSS, vai depender do tamanho da sua dor e do seu bolso.
Escolhe aí.
Mas escolhe com carinho, sempre lembrando que, começa no clínico geral, que poderá te mandar para o especialista, que vai te pedir o exame milagroso, depois de resolvida a especialidade dele, torça para que ele não tenha que te enviar para o outro especialista de outra área para resolver aquele outro probleminha que ele identificou, mas para o qual ele não tem muita segurança para dizer a respeito no momento... ufa... e assim vai.
A bem da verdade, ninguém quer assinar o seu atestado de morte.
Ninguém quer ter "a moral" de chegar e te dizer que seu problema é assim ou assado... na lata... sempre vai precisar passar por um especialista ou fazer alguns exames mais detalhados para enfim encontrar para qual especialista você deverá ser enviado.
Vai tirando guias aí!

Uma vez encontrado o poderoso doutor da causa, vem o drama de ter que esperar por semanas ou meses - não ouvi relato de anos ainda, mas não duvido nada se alguém vier a dizer que existiu - torcer para que os resultados de exames que você tenha em mãos sejam suficientes e válidos, ou, até porque já existe mesmo a desculpa do tempo que passou, correr o risco do tal do exame mais detalhado ainda ser solicitado (note que você já havia passado pelo detalhado) que vai ajudar a entender o seu problema.
Cansativo, não?!?!?
E tomara que tenha terminado aí e que, de novo, não lhe apareça o tal especialista dizer ter encontrado no meio a seu exame um problema que afeta na área de especialidade dele e que tem que ser analisado por outro especialista.
Valei-nos Deus.
É muito médico e muita doença... procurou... achou... é só ter uma boa dose de paciência e curiosidade!

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